é engraçado porque demorou pra caralho pra eu me dar conta. por causa daquele lance do estresse pós traumático. que dra freud tão bem me explicou quando eu estava chorosa no divã, achando que estava com síndrome do pânico. eu tento alertar serena, que acaba de voltar de um passeio exótico na ásia e voltou ao trabalho, numa agência moderninha. vai ficar tudo bem. tento dizer isso pra ana, mas ela não entende ainda, está afogada demais em wonderland pra ganhar perspectivas. pra ela eu indico terapia. ela não precisa passar por isso sozinha, tem que se fortalecer. porque a próxima etapa também é bem dura. carola já esteve em duas entrevistas na firma, e conversamos como boas velhas amigas nas duas vezes. eu digo pra ela que essa fase é dura, mas que vai passar. ela ainda não percebeu. ainda está naquela simulação de alívio pós wonderland. a tristeza vem depois. o cansaço, a falta de vontade de sair de casa, de falar com as pessoas, de gastar energia fazendo qualquer outra coisa que não seja cuidar dos nossos próprios machucados. mas passa.
demorou pra eu me dar conta, e eu nem notei quando acabou, de fato, o sofrimento.
eu estou feliz no trabalho. de novo. aquela sensação de ser parte importante de uma engrenagem que funciona, de ser testada, de aprender com quem sabe mais do que eu. participar das piadas, das brincadeiras. os convites pra almoço começaram a surgir, todos os dias. eu nem precisava mais, porque veio a designer fofa e eu já teria companhia anyway. mas eu topo. os papos são bons, venho conhecendo toda uma sorte de restaurantezinhos na região da paulista. começo a ver poesia naquele povo que passa se acotovelando. trabalhar na avenida paulista é item na to do list de qualquer pessoa que se pretenda paulistana. faz parte da experiência. começou a ficar bom.