sabado de manhã, zelador me liga. o mesmo zelador que já me chamou de minha filha e brigou comigo em tempos outros. hoje em dia, trocamos apenas cumprimentos respeitosos.
me espanta a gentileza, todo querido, cheio de interjeições. vem a pedido de um outro morador do prédio, que comprou um carro grande e precisa trocar de vaga. sabe-se lá por que cargas d'água ofereceram a minha como uma opção. ele diz que o morador está perguntando se eu posso trocar, porque o carro novo dele simplesmente nao entra na garagem do subsolo. e ele quer a minha, no térreo. e que o casal de velhinhos que para o carro em frente ao meu já topou, e disse que até concorda em parar o carro deles mais pra pontinha da vaga, pra que o carro grande caiba.
você aceita? - ele pergunta. digo que preciso checar a vaga, que não posso aceitar sem ver, e que depois eu dou notícias a ele. ele pergunta se o morador pode falar diretamente comigo, e eu digo que não. da mesma forma que ele intermediou esse contato, eu respondo pra ele se topo e ele leva a notícia. não gostaria ter de dizer não diretamente para a pessoa.
mas a vaga é ótima, é muito boa mesmo. a garagem lá de baixo é muito melhor.
digo que vou analisar, pensar e depois respondo.
mais tarde eu vou ao subsolo ver a tal vaga incrível que o morador quer trocar comigo. é tipo a pior vaga de todas as vagas do andar de baixo, do andar de cima, de todos os andares de todas as garagens de todos os prédios da rua, do bairro, de são paulo.
não, obrigada. o carro gigante sem vaga agora perambula pelas vagas temporariamente vazias. é um carro realmente gigante. caminhonete com cabine dupla, daquelas largas, sabe?
como uma pessoa compra um carro sem saber se vai conseguir parar ele na garagem, meudeusdoceu? alguém compra sofá sem ter certeza de que cabe na sala?