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terça-feira, 1 de outubro de 2013

entrevista numero 4

é uma casa muito bonitinha dentro de uma vila nos jardins. duas quadras pra baixo de onde ficava o trabalho antigo, aquele que eu evito saber como anda, se anda, para onde vai. a recepção é separada por uma estrutura metida a instalação de madeira, e tem uns sofás e pufes espalhados, sugerindo uma área de convivência. era uma área de convivência. tinha um galerê moderninho, de camisetas nerd e barbichas, falando do mercado. agência. me corrigiram. é uma consultoria. 

é nada. se tem cliente, se faz o que o cliente bem entende, é agência.

fiquei esperando sentada numa cadeira, e foi juntando mais gente na salinha do lado. montaram uma mesa e surgiram dois bolos. um doce, um salgado. galere conversando, interagindo, clima descontraído. cansei de olhar o facebook no telefone, cansei de jogar candy crush. não queria olhar pra eles, estava constrangida com o fato de estar sentada ali, na cadeira, esperando uma entrevista que eu nem sabia (e nem sei) se queria passar, no meio de uma festa que ameaçava começar.

chegou o maluco que ia me entrevistar e me salvou da bagunça. perguntou se eu queria esperar o parabéns, eu sorri e recusei. a sala de reunião era no fundo na casa. tudo muito bonito, arrumado. acabamentos detalhados. eu trabalhava num escritório tão feio. isso nem me incomodava tanto, acho. mesmo quando começaram as batidas da famosa reforma, eu já meio que sabia que não estaria lá pra ver tudo pronto.

e o cansaço? e a preguiça de botar um sorriso na cara e mostrar que ~sou a pessoa certa~ para a vaga em questão? nem sei muito bem como eu consegui. vai ver que é o que chamam de carisma. lá estava eu desfiando minhas habilidades, falando sobre o mercado e o que eu gostava de fazer. tentando me encaixar naquele cenário.

nunca me achei carismática. prefiro creditar essa minha habilidade em entrevistas à imensa quantidade de vezes que precisei praticar. sou boa para caralho nisso. desculpaê. ate minha voz sa diferente, mais pausada, mais put together. convenci o cara que eu era ótima, mission accomplished. duas horas depois, saia de la correndo pra não perder o compromisso com a familia do namorado, com uma promessa de que eles me ligariam na semana seguinte (essa, né?) pra marcar a segunda conversa, dessa vez com o dono.

pergunta se eu quero essa vaga? não. não queria entrar numa de atender clientes, isso tudo me lembra os prazos loucos da oficina, com a evil manager no meu pescoço. mas penso que pode funcionar como algo temporário, até que eu tenha nas mãos algo que de fato eu queira fazer.

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