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terça-feira, 23 de junho de 2015

montanha russa

eu fico pensando onde é que tudo vai parar. o remédio saiu do sistema e eu acalmei, acalmei demais. não sei se consigo falar de amor ainda, não sei se consigo nem daqui um tempo. eu quero continuar apaixonada, posso querer só isso? como faz pra manter isso quando as coisas se estabilizam, e o tempo dividido precisa também acomodar a familia, o trabalho, a rotina? a serotonina toda que me fazia não ter medo agora vem aos pouquinhos, e eu ando assustada. assustada porque desaprendi namorar, desaparendi essa coisa de ir deixando a pessoa tomar espaço aos poucos. eu tive todo o meu espaço tomado no so-called-casamento, eu não me importei, eu me adaptei. eu funciono bem a dois. e agora tem a minha casa, só minha, e os meus horários, só meus, e os dele, só dele. eu me acostumei a funcionar a dois, e eu fico achando que esse espaço que surge significa algo. eu vejo fantasmas, eu tenho medo, eu imagino tudo se desfazendo num instante. porque é isso que acontece, mesmo quando a gente acredita que nada de ruim pode acontecer. se tudo se desfizer, ok, já aprendi a sobreviver. mas eu quero? investir em coisas que acabam, apostar uma aposta que é sempre alta, e sem garantia nenhuma? 

amy tava certa. love is a losing game. 

paixão acaba em quanto tempo? o que vem depois? eu não consigo comparar com o antes, o antes não seguiu nenhum padrão. era fácil, um estalar de dedos. adults are this mess of sadness and phobias, dizia a mary da kirsten dunst em brilho eterno de uma mente sem lembranças. eu não posso nem ver o filme ainda, eu penso nele e engasgo. eu gosto de acreditar nesse amor que traz um ok gigante escrito na testa, de aguentar todas as coisas, de poder desmoronar nos braços do outro. de achar descanso e abrigo. a verdade é que a gente vira adulto e desmorona o tempo todo, e na maioria das vezes não tem abraço pra acolchoar a queda. a gente dá com a cara no chão. fica lá, chorando, até ter forças pra levantar de novo. e anda tropeçando até ter forças pra acreditar de novo. quando é que isso acontece? quando isso acontece, dá pra acreditar de verdade? quem já desmoronou uma vez conhece a queda. ela vira algo ali, no horizonte. inocência perdida não tem volta. 

eu quero dizer que amo, mas eu não amo. tem horas que eu amo, depois não tenho certeza se ainda é essa coisa de começo, de encantamento. se tem uma coisa que eu tenho certeza que é recíproca, e disso não há sinal de dúvidas, é o medo. o tombo recente é mútuo, o medo de quebrar a cara ali, à espreita. os dois estragados, os dois machucados, os dois querendo o ok estampado na testa, os dois despreparados e desacreditados que esse ok seja de fato possível.  
e tentando. 

será possível? seria possível?

quinta-feira, 18 de junho de 2015

no auge do meu desespero eu fui parar nesse psiquiatra que não por acaso era também homeopata e achou por bem me receitar bolinhas e gotinhas pra curar o coração partido. eu até tentei durante umas semanas, mas aí pensei what the fuck, voltei lá e disse que esperava mais dele. ele argumentou que aquilo que eu sentia não era depressão, e que ele é contra medicar coração partido, porque a sociedade como um todo se acostumou a se anestesiar da dor e a dor é essa coisa que precisa ser vivenciada. give me the fucking meds, eu disse chorando, e ele me deu muito a contragosto, com a condição que eu topasse também as bolinhas. topei. 

e quatro dias depois eu estava eufórica. voltei lá pra acompanhamento e contei pra ele as maravilhas da felicidade sintética, e ele me falava CEDILHA, o remédio só vai fazer efeito em TRÊS SEMANAS, aí eu mandei ele me levar pra análise porque obviamente eu era um case de sucesso para a industria farmacêutica. conheci o menino de olhos rasgados e, meudeus, a felicidade foi pra níveis estratosféricos, uma euforia sem limites, eu ia pro divã pra dizer o quanto a vida, essa coisinha incrível, era mesmo maravilhosa. voltei no psiquiatra e disse que já estava bem, e que nem lembrava do ex, e que agora era hora de tirar esse remédio, porque além de me deixar muito feliz ele me fez ganhar dois dos cinco quilos perdidos na separação, e taí uma coisa que eu não queria ver de volta. 

estamos em desmame. esse é o termo médico para acostumar de volta o seu cerebrinho a funcionar com todas as quantidades corretas de serotonina e dopamina, pra ele entender que a vida é maravilhosa mas tem problemas, e que tudo bem, você é um ser humano apto a lidar com eles. tamos aqui nesse processo de ter o cérebro funcionando com um terço da alegria sintética, precisando se fiar na alegria genuína e verdadeira, que é essa que existe mas não explode em sabores de frutas. 

a vida continua boa? sim. 

mas o trabalho tem um maluco machista, e são dois quilos extras me apertando nos shorts de alfaiataria que eu comprei ainda outro dia. 

preciso cortar o cabelo, e meu cabeleireiro também se mudou pro outro lado do mundo, hello. 

namorado novo é incrivel, mas tem uma visão política diferente da minha. que maravilha as diferenças, vamos lidar com elas, mas às vezes eu só queria alguém que concordasse comigo, enfim. 

a filha do namorado tem onze anos e quer discutir o ian somerhalder e a blair waldorf. eu quero que ela goste de mim, e engasgo com o sorvete de coco no meio da conversa. 

a ansiedade voltou a fazer companhia, mas o chefe anda guardado no bolso e concorda com tudo o que eu digo. tomo broncas por atraso every single day e, ironia das ironias, preciso dar broncas na equipe por atraso. 

marco minhas férias e faço contas. será que vai dar? claro que vai, relaxo e compro vestidos. continuo sem ter certeza de que vai dar, mas pelo menos agora eu me imagino em berlim passeando com meu vestido florido e meu kimono de renda. 

corro no parque e ando na garupa da moto. aprendo que o ex tem uma namorada, revisito as minhas dores e olha só, continuo ótima. me acho mais bonita do que a atual namorada do ex, mas obviamente, se a gente for entrar nesse mérito, dificilmente alguém ganhará dele no quesito beleza. estamos quites. ele anda de barquinho, eu ando de moto e coleciono roxos. 

stalkeio as ex namoradas do namorado, pra saber se elas são mais bonitas ou mais magras que eu. descubro que são mais velhas (i win), bonitas de um jeito diferente (e levemente parecido comigo, freud deve explicar essa - we're even), e com certeza mais magras (i lose). como uns pães de mel pra lidar com essa informação, hoho. foram presentes dele. ;)

a vida era isso que estava acontecendo enquanto eu estava anestesiada. e agora ela chegou com tudo, de volta, enquanto eu ainda to aprendendo a redistribuir a serotonina. boralá.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

you had me at pé de jabuticaba


existe esse mundo pra explorar. o mundo com um jardim num terracinho com vista pro céu amarelado de são paulo. plantas, muitas, que ele faz questão de regar. existe um pé de jabuticaba, e um pé de lichia, e orquideas. um banquinho de madeira e um regador. eu, que sempre busquei a segurança dos cactus e suculentas, me vejo querendo aprender essa mágica que é cultivar um jardim com plantas que pedem mais ou menos sol, mais ou menos água, e disputar as frutas com os passarinhos.

fico pensando na vida e nos cachorros que a gente poderia ter, em como eu decoraria uma casa nossa e não minha, que precisasse abrigar a vitrola, os vinis, os monitores gigantes do computador que ele usa pra trabalhar. o violão, a bicicleta, as plantas todas, a parede de quadro negro rabiscada com os logos antigos. tudo isso combina absurdamente com o que eu quero pra mim. e com as paredes que eu faria questão de colorir.

era pra eu ser mais cautelosa. mais cuidadosa. me proteger mais, eu sei, dado os cacos colados há tão pouco tempo. não sei, não consigo, eu tenho pressa pra viver essa vida que é minha e que eu não conhecia, e que grita por mim o tempo todo, enquanto eu faço planos, tantos, tantos, pra daqui uma semana, pra daqui três meses, pra daqui dez anos.