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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Melancolia

eu não vi melancolia. eu li sobre o filme, e ouvi sobre o filme. eu sei que é sobre diferentes formas de lidar com o fim do mundo. e sobre depressão. sobre não ver sentido em nada. sobre como pessoas deprimidas lidam melhor com grandes catástrofes. eu já passei por uma depressão, e eu sei como é se sentir vazio. eu não me sinto vazia.

eu venho vivendo nessa terra onde rumores dão conta da chegada do meteoro. ninguém sabe o que vem depois, mas o fim do mundo é provável, quase certo. a gente vem lidando com essa certeza há cinco meses, agora. cinco meses em que se vive sem saber meio o sentido. teve gente que pulou fora antes. teve gente que não aguentou a pressão, e encerrou o próprio sofrimento. eu vim sendo ensinada a não deixar meus nervos tomarem conta, a não demonstrar fraqueza. eu fui punida todas as vezes em que saí da linha. eu obedeci. aprendi a controlar minhas expressões faciais, aprendi a conter o choro até chegar num lugar seguro, onde minhas fragilidades não pudessem ser notadas.

eu venho me comportando de forma exemplar. não constrangendo pessoas, não fazendo perguntas inadequadas, não deixando o pânico tomar conta. não desestimulando ninguém em volta. e agora a chegada do meteoro é oficial. não se sabe ainda o que vai acontecer. todos olham pra mim enquanto a notícia é dada, e eu não movo um músculo. eu espero. minha voz mal sai pra responder que não, eu não tenho perguntas. nenhuma. eu estou esvaziada delas.

depois da chegada do meteoro, qualquer coisa pode acontecer. a morte parece meio certa, essa é a sensação. mas pode haver alguma luz do outro lado. é preciso haver um pouco de destruição para que se construa coisas novas. a destruição está aí, nada novo aparece ainda. é um momento de escuridão.

eu sei que no filme as irmãs vão juntas para a praia. esperar que tudo termine. esperar que a espera acabe de uma vez.

não há nada a ser feito. estou na praia. só espero que seja rápido, e que eu não sinta dor. pra que eu possa ver o que tem do outro lado logo de uma vez.

p.s. julinha me corrigiu, dizendo que não era praia nada, era quintal. como eu ia dizendo, eu não vi melancolia. 

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