tem sido difícil me ajustar.
são paulo fez aniversário e eu estava em porto alegre, lambendo minhas feridas, cansada demais, com uma nova insegurança recém adquirida com trabalho. quando o avião finalmente pousou, quando o taxi finalmente me deixou em casa já quase onze horas da noite, eu chorei. de cansaço, de saudades. pedimos cachorros-quentes da lanchonete da cidade e eu consegui me acalmar.
tinha passado o dia longe, trabalhando. não tive feriado. deve ser isso que acontece quando dizem que são paulo engole a gente.
na metrópole esses dias, chove e faz frio. eu gosto. são paulo fez aniversário e eu não escrevi sobre isso. fico sofrida por causa do outro blog, que contava a minha história de amor com essa cidade. queria estar lá, escrevendo, não sei desapegar. ano passado, dia 23 de agosto, eu fiz aniversário de são paulo, e esqueci. a data querida pra mim passou em brancas nuvens. eu, mais uma vez, engolida pela cidade.
ontem, no carro com o namorado, o assunto era a diferença entre rio e são paulo. ele dizia que a cidade era feia. ele, paulistano, dizendo que não dava pra comparar com o rio, tão lindo. eu concordei com essa parte do rio bonito, mas a beleza do rio é pra fora, pra gringo ver. a cidade se enfeita pra copa, pras olimpíadas, pro panamericano. o carioca se espreme em ônibus escassos, velhos e malconservados, desviando de baratas no trajeto pra casa ou pro trabalho. em são paulo, a gente tem opção. pode ir pro trabalho de trem, de metrô, de carro. toda essa onda nascendo com as bicicletas. há opções. existem vários caminhos. eu me lembro que quando a prefeitura do rio começou a encher as piscinas pro panamericano, cortaram o abastecimento de água para a barra da tijuca. dane-se o carioca. são paulo jamais deixaria isso acontecer. são paulo jamais troca o bem estar do seu morador pra encantar gente de fora, pra vender uma estrutura que não existe. me desculpem os cariocas, sou uma de vocês, mas essa vida é lazarenta. são paulo me trata bem.
existe amor em são paulo, ao contrário do que dizem muitos. eu encontrei. é aqui que eu me achei na minha profissão, foi aqui que eu comecei a conseguir me sustentar com a minha profissão (e ainda sobra dinheiro pros vestidos e móveis de pés palito, hoho), foi aqui que eu fiz alguns dos meus amigos mais queridos. foi aqui que eu encontrei o amor da minha vida. é aqui que eu quero ter os meus filhos, um dia.
são paulo engole, bate de vez em quando, surra doído. mas aí te passa a mão nos cabelos e te serve uma comida gostosa, e te ensina que a vida é assim, mesmo. a gente aprende. eu olho pros prédios mais altos, pras avenidas movimentadas, pro trânsito que todo mundo reclama e sabe o que eu vejo? as árvores floridas, lindas, os grafites nos muros, o céu azul, azul, refletindo nos prédios espelhados. as pessoas passando apressadas, coloridas, com fones nos ouvidos. o metrô te levando pra qualquer lugar. as padocas todas, o bar da esquina que serve uma feijoada delicinha que eu só descobri agora, morando há 3 anos ali. é isso que eu vejo. uma cidade que acolheu a mim, carioca, mas também acolhe meus amigos mineiros, gaúchos e nordestinos, que recebe os sotaques e deixa eles se misturarem. eu falo mermão, eu falo mano. com o mesmo carinho.
vai ver que pra mim, beleza é isso. vem de dentro.
são paulo é linda, linda.
p.s. esse post é pra vanessa, que me cobrou nos comentários, e me fez lembrar do quanto eu amo essa cidade, e do quanto isso faz parte de mim. independente de qual blog eu escreva. :)