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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

~em terapia~

Estava eu na terapia. Boa parte das minhas crises desse ano foram relacionadas a trabalho. Obvio que teve outras tretas, mas trabalho foi, devagar e sempre, a fonte de mais drama. Nunca superei a minha avaliação injusta lá em abril. Mesmo com o ex chefe demitido. Mesmo tendo sido trocada de área e de gestor depois de fazer um fuzuê no RH. Mesmo depois ganhar uma parte da equipe do ex chefe nessa bagunça que eu ajudei a aumentar.

Como o assunto se repete, já faz algum tempo que eu tomo umas broncas da analista. Primeiro ela me disse que eu precisava superar a questão. Continuei. Depois ela me disse que esse assunto de avaliação me infantiliza, e que eu mudei completamente o foco do meu trabalho para isso. Para ser avaliada. Ela tem razão. Depois ela disse que eu estava imersa em um grupo de sádicos, e que eu precisava decidir o que fazer com isso. Basicamente ela acha que eu devia pedir demissão, que já passou da hora de isso acontecer. Eu não quero pedir demissão. E aí o looping.

Ontem o assunto surgiu de novo. Vem ficando claro pra mim o quanto que o assunto anda enchendo o saco dela. Eu acho que ela acha que eu estou usando esse assunto pra não ir tratar algo maior. Ela usou algum termo psicanalítico pra batizar essa situação. Freud, sabe como é. Eu acho que eu to tratando esse assunto porque eu ando obcecada com ele mesmo. E toda vez que eu falo disso eu sinto uma bronquinha, uma leve repreensão no tom de voz. Como se ela estivesse sem paciência. Isso já tem meses. Daí ontem, quando ela começou a falar, eu interrompi. De costas, deitada no divã. Eu não preciso olhar para ela pra saber o que vai ali. São 8 anos de terapia. Ela me conhece e, well, eu posso dizer que alguma coisa eu conheço também.

Interrompi. 

Antes que você comece a dizer que eu me infantilizo, que eu não saio do lugar, que eu estou obcecada, deixa eu te explicar uma coisa. É o que tem pra hoje. Era o que tinha pra ontem, e é o que vai ser servido no almoço de amanhã. Até que eu esgote o assunto. Até que eu tenha resolvido. Eu sei que eu repito, mas vai ser assim. Pelo tempo que for necessário. Lide com isso.

Ela meio que começou a se justificar, e colocou panos quentes. A sessão seguiu, de um jeito mais tranquilo, e dentro da pauta que eu tinha estabelecido. Quando acabou, ela fez alguma piada sobre ter levado uma bronca de mim. Eu disse que não, ela disse que tinha entendido o recado. Nos despedimos, eu andei até a porta e brinquei. Vou te dar um spoiler. Segunda que vem estou aqui. Pra falar disso de novo.

Daí que a história começa. Ela me disse que a gente nunca sabe o que vai tratar na análise. Porque coisas acontecem e mudam os planos. Que ela estava a caminho da analise dela na semana passada, e tinha tempo e ir ao salão fazer as unhas. E foi. E ela tinha muito claro o assunto que queria tratar com o analista dela. E nessa de ir ao salão, tudo mudou. Porque ela se meteu numa discussão de política. E a galera do salão estava falando do sergio moro, e o tom ali era o de heroi salvador da nação. E ela discordou. E começou a rolar uma discussão meio tensa, e ela entrou na briga.

~aqui vale um parentesis. minha analista é de esquerda, e isso eu descobri nas ultimas eleições, talvez antes. ela trabalhou com o haddad, prefeito querido, e foi um grande baque para nós duas quando ele perdeu a eleição.~

Ela entrou na briga e perdeu a compostura, por assim dizer. Mandou toda a galera do salão ir ler sobre a História, pra se informar como é que surgiram todos os grandes ditadores. Que todos eles se colocaram como heróis na luta contra o mal, seja mal o que for para o contexto do momento. E que ela tem medo. Muito medo.

Eu estava em pé, na porta do consultório, metade pra fora do corredor, ouvindo minha analista falar da briga dela no salão de cabeleireiro. Por causa do moro. Ela caminhou até mim e disse que tem pesadelos com ele. Que sonha com frequencia que ele entra na casa dela e leva ela presa. E eu fiquei pensando que isso sim é treta séria pra se levar pro divã.

Terminamos a conversa comigo oferecendo uma indicação de cabeleireiro que não discute política, caso a situação dela tenha se tornado insustentável. 

Nos despedimos. E agora eu sei do maior pesadelo da minha analista.

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