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quinta-feira, 27 de junho de 2013

João Emanuel Carneiro assume o roteiro

Onde foi que eu parei? É tanta história desatualizada pra contar que eu preciso fazer uns 15 posts até chegar aos últimos acontecimentos.

Agora, no escritório, o caso da rainha e do chefo é aquele assunto que todo mundo sabe, mas que ninguém fala a respeito. Minha informante me conta, perplexa, que eles têm certeza absoluta de que ninguém desconfia, e isso é tão ridículo que eu não sei nem por onde começar. Outro dia ele se distraiu e tirou um cílio do rosto dela. Climão. E eles nem notaram que todo mundo em volta notou. Semana passada, quando ela estava trabalhando na minha mesa ele chegou e perguntou: "Xuxu, onde estão as barrinhas de cereal?". Eu e a japonesa querida nos entreolhamos, e a vida seguiu. Xuxu.

Enquanto isso, aquele clima gostoso de fofoca se instala. Estava andando pelos corredores e fui parada no meio do caminho pela rainha, com a cara dramática de sempre, dizendo que tinha certeza de que o chefão seria demitido. Como você sabe isso, eu perguntei. Ela disse que o chefo andava muito estranho, assim como Dartagnan. Eles são amigos pessoais, e eu não posso imaginar uma situação mais confortável para ela. Namorado e melhor amigo na getsão da empresa. Eu tenho certeza de que ela acha que pode fazer o que bem entender. Ela gargalhou com gosto, alto, e disse que só precisávamos esperar. Eu fiz aquela cara de paisagem à qual já estou me acostumando e segui a vida.

Eu escuto várias histórias. Outro dia a gente ficou preso no escritório por causa das manifestações, e eu estava em reunião com o chefo e a japa querida. Nem vi que els estava no escritório ainda, e saí pra dar indicações por telefone sobre qual metrô o namorado deveria pegar pra ir me encontrar ali. Soube no dia seguinte que ela desceu com umas pessoas pra jantar enquanto esperava secretamente o chefo estar liberado. Devia estar puta comigo, vejam só, prendendo o namoradinho dela em reunião. Passou um tempão no restaurante reclamando de mim, sobre como eu era ~dramática~ e como eu estava "brigando com o meu namoradinho" no telefone. Pessoa mal resolvida, só pode. Óbvio que isso veio parar no meu colo. Agora, a brincadeira é que ela anda dizendo, em off, para algumas pessoas, que a função dela no departamento está se esgotando (porque ela é foda e já arrumou a casa), e que ela deve ser transferida para a minha área em breve. Que a ex gerente de rh disse isso pra ela. Ora, na minha área existo eu. A menos que eles criem outras posições gerenciais, eu fico imaginando que ela pensa que é hora de organizar a minha área agora. O que coincide com a recente ofensiva na minha direção.

Fico levemente preocupada. Cerco uma rh no banheiro e jogo uma isca pra ver o que ela pensa da rainha. Ela deixa escapar que não compra a criatura. Mando a real. Eu sei que eles estão juntos, e eu temo o quanto isso possa a vir atrapalhar o meu trabalho. RH concorda e fazemos um pacto. Ela em garante que não sabe de nenhuma movimentação, mas me promete que me conta antes se eu estiver ameaçada. João Emanuel Carneiro assumiu o roteiro da minha vida, só pode.

Minha ideia é continuar me fazendo de idiota. Enquanto ela tiver certeza de que eu não faço a menor ideia de nada, estou protegida. Enquanto isso, me movimento solenciosamente, buscando aliados. A coisa mais estúpida que uma pessoa pode fazer é subestimar o próprio inimigo.

O problema e que tudo o que eu sei, eu sei porque minha informante querida, confidente da louca, me conta. Jogar essas coisas no ventilador prejudicaria a querida, e eu não admito isso. Então, eu fico sabendo das coisas, e fico esperando que algo se transforme em fato, pra que eu possa me defender. Fico esperando o chefo me tirar autonomia, questionar minhas decisões, algo assim. Nesse caso, eu posso mandar a história de que eu sei dos dois, e que eu quero saber o quanto isso vai prejudicar o meu trabalho. Pra dizer que, nesse caso, eu estou fora. Nada acontece. Meu trabalho continua inabalado.

Aguardemos as cenas do próximo capítulo.

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