Me puxou o tapete, mas não foi assim de surpresa. Esteve à espreita durante meses, esperando eu estragar tudo sendo eu mesma, só aguardando que eu lançasse mão dessa minha habilidade tão específica de sair do meu lugar (quem foi que mandou?) e resolvesse assumir o papel de justiceira, defensora dos fracos e oprimidos, da moral e dos bons costumes, do profissionalismo e da ética. Tava ali, só de olho. Eu escorreguei, me comportei mal, comprei brigas erradas e olha só. Vamos todos ao chão. Quer dizer. Ao chão fui só eu mesma, e vida que segue. Recolha seus cacos, engula seu choro. Pare de reclamar, a culpa é só sua. É minha culpa, eu sei. Consigo ver cada cantinho do trajeto, refaço meus passos. Fui tão estúpida e ingênua, meodeos.
2013 me jogou na cara umas coisas tão velhas. Eu me vi em 2005, depois em 2003. Cometi esse ano erros tão parecidos. Eu me esforço pra não terminar 2013 como eu terminei 2003 e 2005, absolutamente sem fé nas pessoas. Não está sendo fácil. Passei o ano me deslocando do meu lugar pra defender, apoiar, ajudar, brigar, reclamar, consertar. Pra 2014, fica a resolução. Fico no meu quadrado. Desculpaê, vamos poupar energia. Precisa. Eu ando tão exausta. Não quero saber dos problemas de ninguém, porque dos meus, olha só, conto nos dedos de uma mão quem se interessou. Lidei com gente mesquinha, gente má, gente estragada e talvez por isso empenhada em fazer da vida dos outros um pequeno inferno. Mas não procuro desculpas, não mais. Não é meu papel abrandar as maldades dos outros com explicações freudianas. Cada um sabe de si. Cada um dá o que tem. Eu dei muito, porque tive muito a dar. Agora não. Estou esvaziada. Tem mais nada que não seja pra mim.
2013 me fez perceber que eu não tenho talento pra vilã, e nem sei bancar brigas desse tamanho. Então, 2014. Capa da invisibilidade. Eu só quero que a vida passe e ninguém me note. Estarei ali, minding my own business, tentando recuperar o que me foi varrido nesse ano. Alguma estabilidade, alguma paz de espírito, alguma calma e realização profissional. Algum sentido em tudo que eu faço. Não pretendo fazer novos amigos, porque já tenho o suficiente, e devo ter de gastar alguma energia trazendo de volta a amiga perdida em 2003, que aparentemente sente muito ter sido uma grande babaca comigo e quer consertar as coisas. E vem morar em São Paulo. E me surpreendeu num momento em que eu estava bem humorada, e disse que sim, tudo bem, eu não guardo mágoa bla bla bla whiskas sache. E me fez ficar pensando se eu realmente não guardei. Porque trouxe de volta o sofrimento da época, por mais que meu discurso moldado de análise me faça parecer bem resolvida. Ela vai trazer de volta todas as minhas inseguranças de rejeição, de achar que eu não posso ser eu mesma que a vida vai dar errado e as pessoas vão se afastar de mim. Pessoinha estragada, diz aí. Mas peraí. 2013 já fez isso. Timing perfeito, hein?
Pra 2014, eu quero paz. Quero ficar quietinha. Tentar acalmar a cabeça e ler, ver filmes, ficar em silêncio. Acalmar essas vozes que gritam dentro da cabeça. Ignorá-las, se eu tiver sorte. Parar de tratar problemas dos outros como sendo meus. Parar de me importar tanto com o que dizem, pensam e falam. Parar de me magoar tanto com as grosserias das pessoas todas, desenvolver uma casca, algo que me isole e me proteja. Parar de varar madrugadas olhando pro reflexo das luzes que enram pelas frestas da janela, sem achar posição, sem conseguir dormir, com a cabeça tão cheia. Tipo hoje.
2013 me deixou mais pessimista e descrente. Como fez 2003 e como fez 2005. Eu não tenho tanta sorte com anos ímpares.