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sábado, 27 de setembro de 2014

encontros e desencontros

vamos tomar aquele chá? - me disse L. na janelinha de chat do facebook. ela se mudou pra são paulo há oito, nove meses. não somos amigas desde 2003, quando ela parou de falar comigo do nada e partiu meu coração em pedacinhos. éramos melhores amigas. levei um tempão até acreditar nas pessoas de novo, até achar que tudo bem confiar. sou dessas. amigos partem meu coração. meu coração foi partido um milhão de vezes por amigos.

há meses ensaiamos uma reaproximação. quer dizer. ela me adicionou, eu aceitei, trocamos follows em redes sociais. uma coisa tão 2014. eu fico pensando em como seria se os tempos fossem outros. eu me lembro que quando me dei conta de que ela tinha cortado laços comigo, escrevi uma carta. escrevi à mão, porque pra mim era importante que aquilo fosse pessoal. eu estava com a edição dela de "O Vampiro Lestat", e estava bem na metade do livro. dobrei a carta escrita à mão como um marcador, na página em que abandonei a leitura. deixei o livro na casa dela, nas mãos da avó dela, que obviamente não sabia de nada e foi uma fofa comigo. dois ou três dias depois, um e-mail. Nem subject tinha. tinha cinco ou seis linhas, confirmando que era isso mesmo, que ela não era mais minha amiga. que não conseguia conviver comigo, e que não, eu não tinha feito nada especificamente. fazia exatamente dez anos quando ela mandou a mensagem pedindo desculpas e dizendo que precisava consertar o que tinha feito comigo. e que pra sempre eu tinha sido uma história mal resolvida pra ela.

vamos tomar aquele chá? o chá foi a proposta que eu fiz, meio que um daqueles convites que a gente faz sem saber se de fato quer que se concretize. coisa de carioca. mas ela guardou a ideia e apareceu hoje com a proposta. eu fico pensando em como seria isso, de encontrar uma pessoa que desapareceu da sua vida há dez anos e colocar a conversa em dia. passou tanto tempo. eu sou tão diferente de quem eu era em 2003. não tem dúvidas de que tem a participação dela nessa pessoa que eu me tornei. eu era mais ácida, mais sarcástica. depois da pseudo briga eu fiquei self concious. sempre preocupada em como seria percebida, sempre escolhendo palavras pra não magoar, não assustar, não machucar. sempre corrigindo os erros que eu achei que podia ter cometido com ela, erros que ela nunca me disse quais eram. virei outra pessoa. hoje eu sou mais doce, mais preocupada, mais cuidadosa e delicada com as relações de amizade que eu construo.

vamos tomar aquele chá. eu concordei e propus que fosse daqui duas semanas, entre o aniversário dela e o meu. taí um aniversário que eu nunca esqueci. eu olho pra ela nas redes sociais e penso em como é que um dia fomos amigas. não sei se temos de fato algo em comum. às vezes eu percebo uns flashes da amiga que eu tive, das viagens, das conversas, das festas em botafogo. por que é que eu gostava tanto dela mesmo? hoje, na maioria das vezes eu acho ela boba, gritando por atenção, ressentida com os tombos que a vida deu, levemente amarga quando se decepciona com alguém. mas não somos todos amargos na decepção? quem me garante que eu também não seja um pouco assim?

estou curiosa pra esse reencontro. fico pensando se eu vou querer perguntar. a pergunta que eu me fiz por anos a fio, até desistir, engolir o choro e a frustração e seguir adiante, e achar novos amigos, e confiar em outras pessoas, e me importar com outras histórias. ela me deve essa resposta há tanto tempo. será que essa resposta vai de fato me dar o que eu espero? o que eu espero? será melhor não perguntar? fingir que nada aconteceu, perguntar da vida como duas velhas amigas que passaram tempo demais sem se ver? como reescrever essa história, e será que existe alguma história a ser reescrita? e se a gente não tiver, de fato, nada em comum? a garota que eu era com 23, 24 anos quase não aparece na mulher que eu virei com 34, quase 35. eu nem tenho mais tantos amigos. fiquei cuidadosa. fiquei econômica. haveria algum espaço ainda? haveria conserto?

Um comentário:

  1. Também fiquei curiosa. Me identifico muito com seus textos. Acho que esses encontros são super válidos, aquela coisa de "será que tem algo aí ainda?". Gosto de apostar que sim!

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