o problema maior da vida, é um só. é aquela menina cantando george michael com a metrópole se desenhando ao fundo, num fim de tarde de céu cor de rosa. as expectativas dela eram altas, e assim continuam. é nela que eu penso todos os dias, é ela que eu quero orgulhar. é somente a ela que eu devo satisfações. ela é dura, ela me assistiu nos últimos 402 dias, chorando pelos cantos, sofrida, descrente. eu parei de encará-la em determinado ponto, por vergonha. mas ela estava ali, como uma sombra. esperando que eu tivesse coragem, que eu voltasse para o caminho. que eu olhasse de volta pra mesma direção que ela. que eu voltasse a ser ela.
ontem eu fui chamada ao comitê supremo de wonderland, pra dizer o que achava da minha realocação. eu não reagi como eles esperavam. eles esperavam que eu entrasse na sala de justiça feliz, sorridente e acima de tudo grata pela imensa oportunidade que me era dada. eles podiam me demitir, veja bem. eles acharam um lugar pra mim. como eu podia ousar ter perguntas? como eu podia ousar não saber a minha resposta? na sala, eu fui acuada, e mantive a minha posição de querer mais tempo. mais um dia, eu pedi. me deram, contrariados.
voltei pra mesa e não durou nem 5 minutos até que a menina ruiva me chamasse à sala da consultora de rh. ela estava brava, e repetiu a imensa oportunidade que se desenhava pra mim em wonderland. repetiu que eles podiam me mandar embora, e não o fizeram. disse que esperava uma reação totalmente diferente, e que a chefa pasquale estava muito aborrecida com a minha *arrogancia*. disse que já tinha recebido algumas reclamações sobre o meu comportamento, todas vindas da menina ruiva. que queria entender o que havia acontecido comigo. porque há meses atrás ela costumava me ver gargalhando sentada na mesa, e costumava ouvir a minha voz do outro lado do andar. e que tudo o que via agora era uma pessoa calada, triste, com a expressão pesada. eu olhei pra ela e os meus olhos arderam. e eu disse que toda a minha experiência não havia me preparado para o que eu tinha encontrado aqui. e que toda a equipe estava machucada, e eu também. e que eu tinha tido o pior e mais frustrante ano da minha vida profissional. eu acho que foi nessa hora que eu chorei. eu concordei com ela que não havia mais nada ali que lembrasse a pessoa que eu havia sido. que eu havia sido calada, corrigida, repreendida, ameaçada. e que eu trabalhei muito bem com a menina ruiva até o dia em que ela virou minha chefe. e que eu tinha as minha colocações sobre ela. que ela media forças comigo, que me deu esporro sempre que eu discuti com a carola favorecida. cortou minhas asas, me fez ter medo dela. me fez ser obediente. me repreendeu sempre que eu falei alto, ou que eu expus o que achava. a rh me perguntou por que eu nunca tinha procurado ninguém pra reclamar. e eu disse que não me sentia protegida, porque eu já tinha visto represálias antes. eu falei que eles deviam investigar melhor a menina ruiva, porque eu sabia que a minha reclamação não era a primeira (serena, beijos), e que ela era uma excelente gestora DA CAROLA. mas que era péssima gerenciando pessoas que não tinham a mesma formação que ela.
saí da sala e me comportei como um funcionário de wonderland se comporta. fui até o cantinho do choro, no pátio, e chorei. fui pra terapia e pedi pra não deitar no divã. eu não precisava de análise, eu precisava de ajuda. de coaching. dra freud foi a pessoa mais incrível. me confirmou o que eu já sabia. que eu estava sendo desrespeitada. que a hierarquia pressupõe a submissão, e que eu não era submissa. eu me vi, de novo, em 2008, chegando. e achei que era hora de voltar a ser quem eu vim ser.
... continua.
como você é fantástica, menina. fantástica.
ResponderExcluirte desejo muita força. dra. freud tem razão.
obrigada, fer. tem sido muito, muito difícil. mas escrever me ajuda. e não acabou ainda. :)
Excluircomo você é fantástica, menina. fantástica.
ResponderExcluirte desejo muita força. dra. freud tem razão.