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domingo, 14 de outubro de 2012

o dia d

eu acho que esgotamento define. quando serena soube que seria demitida, descemos para um café. eu disse pra ela que se o seu destino era esse, que ela chegasse absolutamente linda no dia seguinte. que passasse pelo dia digna e put together. ela chegou com sapatos de verniz e um vestido de crepe verde escuro. batom vermelho. foi demitida ainda pela manhã, mas não se apressou em recolher as coisas e sair de wonderland. descemos pra almoçar, ela se despediu com calma de cada querido. quatro anos no país das fadas. foi bonito ver essa outra forma de lidar com uma despedida forçada. 

uma reunião no início da tarde deu início aos trabalhos. a equipe foi chamada na sala de reunião onde a comissão extraordinária de wonderland, formada pela menina ruiva, a chefa pasquale, a consultora de rh e uma outra menina (também rh) disseram os critérios de realocação e falaram que nós seríamos chamados individualmente para ouvir a proposta. teríamos alguns dias pra pensar e uma outra reunião, na terça feira, seria marcada pra aceitar ou não o que tinha sido proposto.

uma curiosa calma se abateu sobre mim, enquanto a equipe entrava e saía da sala. fiquei de papo com a rh fofa que tratou da minha contratação, discutindo o término de namoro dela e alguns preceitos da umbanda. sou filha de iansã, ela disse. a senhora dos raios. depois ogum, ou são jorge. gosto da combinação. ogum é vingativo, ela disse. eu sou um pouquinho, ponderei. mandam os raios, e isso ficou claro para as duas.

todos que saiam da sala contavam pra onde iriam. alguns felizes, outros desconfiados. eu estava mais curiosa pela realocação da carola do que qualquer outra coisa, pra confirmar a minha teoria de que ela foi favorecida e teve informações privilegiadas. entrei na sala antes dela.

ouvi a chefa pasquale falar muito bem do meu curriculo, da minha bagagem profissional, de tudo o que eu já havia feito fora dali. ela me falou da área que eu vou, e é mesmo o 8o andar dos queridos, junto com eles. eu ouvia e não entendia muito bem o que eu iria fazer lá. ela terminou de falar e me perguntou o que eu achava. eu não tinha entendido, e pedi pra ela explicar melhor como eu funcionaria naquela equipe. ela repetiu todo o looping que me confundiu na primeira vez, e quando acabou de falar perguntou novamente se eu havia entendido.

eu não entendi nada. sorri sem graça, arregalei o olho, mal consegui falar. parece legal. sai da sala confusa, desorientada. eu sei que eles me propuseram algo no 8o andar, mas eu realmente continuo sem entender o que.

não era nem seis horas quando eu comecei a bocejar loucamente. o peso dos últimos meses. a decepção de esperar uma definição que veio pela metade. fui pra casa e chorei. tive raiva das pessoas todas. senti a saída de serena.

agora, um pouco mais inteira e descansada, eu ainda não sei o que dizer. não posso chegar terça-feira com uma resposta para algo que eu não sei o que é. não topo que conduzam os meus passos lá dentro sem nem se dar ao trabalho de me explicar o caminho.

não é bom o suficiente. não me basta a resposta.

2 comentários:

  1. caramba. eu acho que faz sentido vc ser filha de iansã. "rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim". eu nem sei direito o que comentar, na verdade. quando abri o reader e vi seu post, assustei. ficar junto dos queridos é bom, isso que dá o gás de entrar em qualquer wonderland; isso que sustenta, porque os altos e baixos desgastam...

    eu toparia, pra ver qualé que é. de repente, é a reviravolta que muda as coisas, que dá um norte.

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  2. eu ainda estou pensando no que vou fazer. sempre pode surgir algum fator novo, né? :)

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