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quinta-feira, 21 de março de 2013

Março

É tanto acontecimento, e março nem acabou ainda.

Mudaram o prazo do projeto pra antes, o que sobrecarregou todo mundo, e a mim também. Eu me meti a tomar um termogênico pra ficar magra e fiquei foi louca, com crises de ansiedade. Já parei. O prazo alterado do projeto acirrou os ânimos, e triplicou as reuniões com portas (e caras) fechadas. Todo mundo resolveu duvidar das decisões que haviam sido tomadas, desde como o projeto vai se chamar até como ele vai parecer. Bem, isso é o meu trabalho, e eu não estive em todas as reuniões. Venho vivendo no susto, sabendo de coisas importantes em cima da hora, e tomando as decisões (que eu consigo tomar) sem qualquer planejamento. Peguei um avião em Porto Alegre e estava feliz da vida porque estaria em casa numa sexta feira as 16h. Congonhas fechou sem previsão pra abrir, Guarulhos fechou e fomos mandados pra Ribeirão Preto. Vi plantações de cana do alto, e isso quase que foi o ponto alto do dia. Voltamos pra Congonhas já de noite e eu peguei trânsito pela primeira vez em São Paulo. 1h30 parada na 23 de maio. Quando finalmente estava virando a esquina de casa dentro do taxi, exausta e querendo deitar em posição fetal, o telefone toca. Minha avó na UTI.

Nasceu o bebê do chefão, e ele tirou 15 dias de férias. 15 fucking dias dentro de 2 meses de prazo é 1/4 do tempo, porque esta conta especificamente eu sei fazer muito bem. Danem-se os prazos. Já não fosse ruim o suficiente, eu fiquei indo pra cidade siderúrgica direto pra ver a minha avó. Que permaneceu morrendo durante quase duas semanas. Eu voltava pra São Paulo, fazia calls com gringos nervosinhos e grossos (pressão, trabalhamos em diferentes países), pulava o almoço, mais reuniões e bombas explodindo por todos os lados. E eu pensava que enquanto eu fazia isso tudo, minha avó sofria para puxar o ar, inconsciente. Morrendo. Pulei almoços, viajei pra Porto Alegre mais um pouco, voltei, continuei tendo dias aborrecidos.

Minha avó morreu na terça-feira pela manhã. Desmarquei viagem, tirei dois dias e fui pra lá. Eu me despedi no final de semana, disse a ela tudo o que eu gostaria. Ela abriu os olhos em deteminado momento e eu juro que ouvi ela dizer "amo". Talvez seja só a minha cabeça, talvez seja o que eu queria, de fato, que ela conseguisse me dizer, mas eu já sabia, ela nem precisava. Ela cuidou de nós quando éramos pequenos, enquanto meus pais trabalhavam. Fez cada um dos meus coques do ballet, enchia a minha cabeça de spray sempre que eu queria uma trança mais firme, ou maria-chiquinha para ir pra escola. Coisa difícil isso de se despedir. Ela foi enterrada embaixo de uma árvore, junto do meu avô, e eu fiquei pensando que devia voltar lá e plantar uma mangueira pra eles. Como meu avô me ensinou, secando a semente antes de plantar. Minha mãe disse que não pode, porque o cemitério tem paisagista, e eles iriam arrancar a muda assim que começasse a crescer. Voltamos pra São Paulo na correria, com namorado correndo para o trabalho em seguida. Fui pra casa e chorei.

Estou fazendo terapia 2x por semana, tem sido assim desde que março começou. Março não acabou ainda, as discussões continuam em horário comercial, reunião atrás de reunião. Tenho me preocupado em sobreviver. Dormir, comer, trabalhar. Ir pra casa ao final do dia e deitar no colo do meu menino, quietinha.

Voltei pro trabalho e o cara de tecnologia me diz que vai tirar férias. Fucking férias, daqui a 15 dias, ainda dentro daquele prazo irrevogável com o qual estamos TODOS lidando. Eu suspiro. As pessoas são adultas e tomam as próprias decisões. Não cabe a mim carregar o peso do mundo nas costas. Não é meu papel.

Faltam 10 dias.

4 comentários:

  1. que mês =/

    pelo menos este projeto tem prazo, e dentro de 10 vamos ver o que acontece.
    Melhor do que um projeto sem prazo, sem nada...

    né?

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  2. Sinto muito pela sua avó. Março tá sendo um mês horroroso pra todo mundo. Tenho sentido vontade de chorar todo dia qdo acordo de manhã, todos os meus amigos estão lidando com coisas pesadíssimas. Vai passar, vai passar. =***

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  3. eu sinto muito pela sua vó e mais ainda que tenha acontecido num momento conturbado.

    você pode plantar uma mangueira em outro lugar, sua vó ia gostar. não é a mesma coisa, mas é alguma coisa. mas você sabe. =)

    um beijo e um abraço.

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