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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Adaptação

eu devo estar machucada. porque eu olho em volta e nada parece bom. fico pensando na confusão pra achar um estacionamento perto da empresa, na desorganização das coisas todas. saí de casa para o trabalho e bati o carro saindo da garagem do prédio. chovia, e eu me lembro de ter olhado para os dois lados. o carro surgiu do nada. meu carro arranhou um pouco, nem liguei. o outro carro amassou e estragou duas portas e o orçamento para o conserto ficou uma pequena fortuna. fiquei pensando que eu tive sorte, porque já estava com o cinto, e eu nunca coloco o cinto ainda dentro da garagem, e porque eu bati num palio, bem no dia seguinte da minha rescisão com wonderland. se fosse semana passada eu ia ter problemas. se fosse um jaguar, eu ia ter problemas. se eu estivesse sem cinto, eu ia ter problemas.

é muita informação pra ser absorvida, e eu estou naquele looping de início em firma nova. eu odeio primeiros dias com todas as minhas forças. você precisa ligar um modo de funcionamento meio proativo e sorridente, e animado. e decorar nomes, e tentar ser convidado para almoços com a equipe, e participar das conversas todas. ter expressões faciais pra cada informação que recebe. e fazer listas mentais do que precisa ser aprendido, do que precisa ser feito. eu tive que fazer isso tudo trocando mensagens com o dono do carro que eu estraguei, com a concessionária que ia fazer o conserto. com meus amigos chamando no msn pra perguntar como estava sendo. fui atropelada pelo dia.

eu estou TÃO cansada. talvez tenha sido a folga curta, talvez a falta de descanso mental, talvez ainda algum resquício de estresse de wonderland. talvez eu tenha perdido o ritmo, a eficiencia, talvez o último ano tenha sido mais pesado do que eu tenha imaginado, talvez wonderland tenha me deixado mole e pouco produtiva. eu fico pensando que a vida se acerta, e que eu estou reagindo às mudanças, um comportamento normal, esperado. pelo menos me deram um mac pra trabalhar, e isso é inédito e incrível. e me deram uma BOA cadeira. foco nas pequenas coisas.

as pessoas são diferentes, mas têm conversas engraçadas. umas coisas meio nonsense surgem o tempo todo, e o clima é bem descontraído. as meninas são magras, muito magras, a existe uma quantidade desproporcional de louras. os meninos são divertidos e falam de seriados durante o almoço. meu chefe parece o otto, cantor. as pessoas são gentis umas com as outras, e fica bem nítido que elas se gostam de verdade.

em outros tempos, eu acho que já estaria mais entrosada. tudo bem que é o terceiro dia, e que eu me convidei para os almoços até agora, e isso requer um certo nível de cara de pau, mas eu tenho me surpreendido com o meu silêncio. eu só observo. não estou muito preocupada em ser aceita, em ser querida. ando por demais traumatizada com a minha experiência em wonderland. ainda.

eu acho que o problema maior, de todas as coisas que wonderland tirou de mim, o mais grave de tudo foi eu ter perdido aquela sensação de que as coisas vão ficar bem.

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