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terça-feira, 5 de junho de 2012

john armless

eu fico aqui pensando em como eu posso começar a descrever o digníssimo john armless. posso começar dizendo que ele também foi trazido pelo former friend, de quem também é amigo de longa data e de quem também é padrinho de casamento. cara bonachão, estranho e confuso, que eu esbarrava muito de vez em quando na casa desses amigos. dizia oi, tchau, achava ele meio sem noção, mas a minha vida não era afetada em nada pela existência do infeliz.

no casamento dos amigos, há um ano atrás, ele deu em cima de mim na frente do meu namorado. duas vezes. bastou isso para que meu menino tomasse horror à figura. quando o former friend me trouxe pra wonderland, me botou pra trabalhar com o maluco. os últimos nove meses têm sido os mais longos da minha vida, pela ilustre presença do bonachão.

poucas vezes na minha vida eu vi uma pessoa se expressar tão mal. ele se enrola explicando, gesticula, desenha processos no ar. no fim, pergunta. você entendeu? a resposta é não. sempre. pra qualquer um que seja o interlocutor. qualquer que seja o assunto. ele é zoado nas mais diferentes esferas. de alto escalão a estagiários, ninguém acredita no que ele diz. mentiroso compulsivo, depois de horas sumido um dia quando o mundo caia à nossa volta, voltou pra mesa com a camisa toda molhada de chuva. eu sabia que ele estava fumando lá embaixo, mas resolvi perguntar. john, onde vc se meteu? na tecnologia, ele disse. eu retruquei. tá chovendo na tecnologia agora?

ele sempre é pego nas mentiras. todas as vezes. antes eu deixava pra lá, mas de uns tempos pra cá eu cansei, e faço questão de desmentir, pra deixar ele sem graça. pra ele parar de achar que todo mundo é idiota. ou pelo menos parar de me tratar como uma.

desde que o former friend saiu, ele vem se superando. momento de transição, ainda não existe um gestor responsável, e ficamos os três - eu, ele e a menina ruiva - respondendo em igualdade à chefa pasquale. isso é um problema, já que ninguém manda em ninguém e, pelo menos em tese, não podemos nos cobrar nada. ele chega tarde todos os dias, falta trabalho, desaparece por horas, HORAS, arruma fisioterapia no meio do expediente. a chefa fica em outro andar e não vê nada. e a gente não pode cobrar, porque somos pares. ele vivia dizendo que estava muito sobrecarregado, e que era gargalo de várias coisas. eu fui pegando as tarefas dele pra mim. assumindo mesmo. fui na chefa pasquale e falei: você tem um problema. estamos os dois na mesma função. alguém precisa ser nomeado o responsável por isso. na reunião seguinte, ela me deu oficialmente as responsabilidades. que já estavam comigo, anyway. a ideia, aqui é começar a expor. porque raciocinem comigo. oficialmente as tarefas são dele, mas eu que faço. quando chega a hora de reconhecer, é o bonitão que vai dizer que fez. e isso eu não topo não, não topo mesmo.

vez por outra a gente cai na porrada. eu me irrito fácil com a criatura e sempre que ele comete algum erro, eu caio matando. antes eu brigava mais, mas venho observando a menina ruiva, e agora eu ando mais sonsa, deixando ele se enforcar sozinho. alguém me pergunta sobre algo que é dele, eu digo. acho que você deveria falar com o john armless, ele vai saber te explicar isso melhor. isso porque eu já sei que ele vai se embananar explicando. :)

agora ele sai todo dia mais cedo. num dia ele tem a tal fisioterapia, no outro precisa levar o filho no hospital, nos outros dias, bem, eu não sei o que acontece. ele guarda as coisas, mete o computador na mochila e diz tchau pra uma equipe chocada com a cara de pau da figura.

john armless é mais uma das bagunças deixadas pelo former friend.

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