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terça-feira, 18 de março de 2014

Um arranhão

sabe batida de carro de estacionamento de supermercado? pois foi numa dessas que eu me meti ontem. dei ré, um outro carro também deu ré. batemos. batidinha leve, dessas que não quebra e nem amassa nada. mas arranha. arranhou o meu, arranhou o outro carro. dele, saiu um casal de senhores, que muito bem podiam ser os meus pais. eu me desculpei. imaginei que a gente podia cada um arcar com metade da responsabilidade, e cada um seguir seu caminho. assustada, a senhora ligou para a filha. ou a filha já estava no telefone quando a gente bateu, não sei bem. 

e dá-lhe uma pessoa completamente louca no viva voz do iphone. "quem é a menina? fotografa ela, fotografa o carro, pede os documentos, qual o telefone dela, ela tem seguro?" eu respondia o que achava razoável. "sim, tenho seguro, mas não acho que seja o caso de acionar pra um arranhão." o senhor, claramente atordoado, girava em torno do meu carro fotografando placa, e dizendo que aquilo ia sair caro. claro que não ia. foi um arranhão. chegou um funcionário do supermercado dizendo que era bobagem MESMO, que bastava um polimento e o carro estaria novo. o carro dele. eu nem estava preocupada com o meu. eu lido com arranhões. viver arranha. 

enquanto isso a filha louca no viva voz continuava pedindo telefone. informei e pedi gentilmente que ela me ligasse, pra que eu também tivesse o contato deles. que a gente podia se ligar amanhã, que eles levassem o carro numa oficina e orçassem o conserto do arranhão. a filha agora queria o meu endereço. eu disse que não precisava informar esse tipo de coisa, que não via necessidade. foi aí que a coisa mudou de figura.

"porque nós somos uma família de advogados", ela disse, "e a gente puxa seu nome e endereço através da placa do carro." eu disse "que ótimo, meus parabéns, meu pai também é e eu não vejo motivo pra que isso seja assunto nessa conversa. peguem as informações que precisarem, levem o carro na oficina e me liguem. e a gente acerta." o senhor falava algo como "eu já tomei muito na cabeça antes", ou "já me passaram muito a perna", insinuando que eu queria sair dali pra fugir deles e nunca mais atender as ligações. fiquei puta. parei de falar com ele e me dirigi à filha. "vocês por favor me liguem amanhã com o orçamento desse conserto, e aí a gente conversa." ela sacou a minha irritação, e me pediu pra entender a preocupação dela, já que eram os pais e etc. claro que eu entendo, podiam ser os meus. mas eu já me envolvi em batidas antes e jamais saí insinuando que as pessoas iam agir de má-fé comigo. cansei de deixar pra lá esse tipo de coisa só pra não ter o aborrecimento.

cheguei em casa e chorei. não por causa da batida, mermão, desde dezembro já foram 3, e só essa teve alguma responsabilidade minha. eu lido com isso. eu fiquei brava com a carteirada, com o "nós somos uma família de advogados", com o eu não lhe conheço e isso é motivo suficiente pra eu achar que você vai me passar a perna. eu devia ter feito um BO. na confusão, enquanto eles escaneavam meu carro, eu nem me lembrei de anotar a placa do carro deles. 

arranhão a gente lida, certo? foi só um arranhão. o mantra agora é esse. foi só um arranhão.

Um comentário:

  1. carteirada é algo que não dá pra tolerar - vindo de cidade pequena eu ouvi muito "sabe com quem você está falando?".

    viver arranha.

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