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quarta-feira, 4 de julho de 2012

20:16


as reuniões se acumulam, e nenhuma delas traz boas notícias. a diretoria está avaliando. antes pediam 15 dias, mas todo dia o prazo se renovava, uma coisa bem "fiado, só amanhã". a gente vai morrendo aos poucos, um a um. você vai percebendo as minúcias de como cada um lida com os problemas. tem gente que reclama, que morre aos poucos na frente de todo mundo, que suspira sofrido e não sabe de onde tirar forças. tem gente que começa a gaguejar pra tentar explicar a própria frustração e no fim desiste, vencido, sabendo que mesmo sem ter conseguido passar a mensagem, todo mundo entendeu. tem gente que se faz de forte, e articula bem as ideias, e pede paciência, e tenta imprimir alguma confiança, mas que você sabe, lá no fundo, que também está desmoronando. 

a fé de todo mundo vem sendo testada. as frases começam em tom alto, e vão morrendo aos poucos. a última palavra surge sempre soprada, sem forças. a gente sabe. eu brinco que eventualmente isso vai funcionar, e vamos todos tomar martini e gargalhar jogando a cabeça pra trás do alto de um prédio. eu ainda tenho esse fiozinho de esperança. uma nova data foi marcada, e agora parece mais certa. agosto, inicinho, teoricamente alguem vai nos ditar o caminho. eu queria sair da sala e tirar a tarde de folga, aproveitar o sol bonito desses dias de inverno. tirar uns dias, pintar meu quarto, arrumar ainda mais a casa colorida. cuidar da vida, sabe? mas não. estamos todos no automático, cumprindo tarefas mecanicamente, sem saber ao menos se elas vão nos levar a algum lugar. vôo cego. leap of faith, na mais perfeita expressão da palavra.

saí da reunião, olhei para os coworkers sofridos e chamei pra um picolé. descemos, sentamos num banquinho e ficamos ali, tomando sorvete, conversando sobre a vida. a vida é boa, lá fora. pra mim, pra cada um deles. namorados, namoradas, maridos, bebês, casas em processo de decoração, viagens de final de semana, restaurantes novos pra experimentar. a vida é boa, lá fora. se fosse 2009, quando tudo era uma bagunça, eu estaria pesando 40 quilos. coisa boa é descobrir que eu estou aprendendo a deixar trabalho onde o trabalho mora. dentro daquelas paredes frias, com mesas apertadas e post its espalhados nos monitores. eu saio de wonderland de noitinha e a cabeça muda. sou livre. coloco strokes no rádio, porque isso me faz feliz. vou ao shopping completar as últimas encomendas do pai e dos irmãos, já pensando no arroz doce que me espera na cidade siderurgica. compro presentes para os bebês das amigas. fecho os olhos, respiro fundo e espero o momento em que eu vou conseguir, novamente, ser feliz em horário comercial.

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