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segunda-feira, 8 de julho de 2013

o call dos infernos

Há 3 semanas, quando os gringos estavam aqui, eu ganhei uma briga importante. Havia essa agenda compartilhada para a semana, e eu sabia que a quinta feira seria o dia mais importante. Porque estaríamos discutindo a visão do projeto, e era nisso que eu brigava com o gringo malcriado, o mesmo das discussões horriveis de março. A gente vinha seguindo pelo caminho dele, por uma questão de prazo, mas o resultado todo era tão horrível que sempre que o chefo ou o chefão passavam por perto, eu demonstrava o quanto eu estava horrorizada com o caminho escolhido. Depois de alinhar internamente que era melhor o nosso caminho, eu tinha que dizer pros gringos pararem as máquinas, repensarem o caminho e seguirem na direção que eu apontava.

A reunião começou sendo um desastre. A mesma barreira de idioma que eu sofro afeta os chefos. É difícil levar uma discussão num idioma que, por melhor que você domine, não é o idioma em que você pensa. Os gringos iam levando a discussão prum lado desastroso, e eu, muda, assistia os chefos quase que concordando. Eu quase não acreditava no que estava assistindo, e comecei a pensar que aquele caminho quem não topava era eu. A discussão avançava e eu fui ficando puta da vida. Raiva mesmo, sabe? Comecei a pensar em pedir demissão. Silenciosamente pensava nos meus próximos passos. Atualizar linkedin, contatar os queridos. Eu é que não estaria ali pra seguir com aquele plano monstruoso.

A raiva era tanta que eu deixei de me importar. Eu podia falar o que eu quisesse, porque não fazia questão de estar ali e seguir com aquilo. E aí eu falei. Em português mesmo. Eu estava brava demais pra traduzir qualquer coisa. Olhei pro chefão e disse que o que eles estavam propondo era absurdo. Pontuei com umas questões de mercado aprendidas lá em 2007, quando eu fiz meu mba. Os gringos olharam pra mim e eu continuei, em inglês, dizendo que o trabalho que eles fizeram não era o que a gente acreditava, e que a gente queria fazer do nosso jeito. O gringo malcriado perguntou. Mas o que tem de errado com o nosso trabalhooo? E eu comecei a enumerar os diversos problemas, cada um deles. Encerrei dizendo que eu tinha quase 10 anos nesse mercado, e que eu entendia melhor o nosso público do que eles. 

A discussão mudou a direção e veio para o meu lado. Os chefos seguiram a partir dali, e no final ficou decidido o que eu esperava. Os gringos ficaram putos, eu fiquei feliz e com um mundo de trabalho pra colocar em ordem.

Desde então, o gringo malcriado parou de falar comigo.

Na quinta feira da semana retrasada, tínhamos o primeiro call pra falar do projeto. E foi um dos piores dias da minha vida. O gringo me cortava, me corrigia, me ignorava. O chefo assistia tudo, e não fazia nada pra me defender. Eu fiquei puta, só queria que aquilo acabasse. No final, o gringo passou de todos os limites. Eu questionei uma coisa e ele basicamente riu, gargalhou com a equipe dele, debochando. Disse que não tinha a menor importância o que eu tinha perguntado, e que ele tinha feito outra pergunta. De novo o tom professoral que eu tanto odeio. Foi tudo tão rápido que eu não consegui responder. Olhei pro chefo, esperando que ele colocasse um ponto final em todo aquele absurdo e desrespeito. E ele fingiu que nada tinha acontecido. Daí eu fiquei puta com ele, me sentindo desprotegida.

A reunião acabou e eu estava segurando o choro. Enquanto enrolava os fios do carregador do meu computador, ele disse, tentando me acalmar, que achava que os gringos eram escrotos comigo, mas que eu devia relevar.

Relevar.

Eu olhei pra ele e disse que aquele tinha sido o maior desrespeito que eu já havia passado em toda a minha vida profissional, e que era inaceitável. E que ele tinha um problema pra resolver. 

Ele entrou em reunião de novo, eu fui pra minha mesa e chorei. 

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